sábado, 21 de novembro de 2009

ANDRÉ REBOUÇAS : O NEGRO CACHOEIRANO QUE PREGOU O FIM DA ESCRAV I DÃO E DA MISÉRIA E INCOMODOU AS ELITES


Na Semana da Consciência Negra,  este blog  destaca a figura histórica de um cachoeirano que pregou não só o fim da escravidão mas,  principalmente,  lutou pela abolição da miséria. André Rebouças (1838 -1898)  foi um ardoroso abolicionista e, mais que isso, pregou  em artigos e manifestações Brasil afora que, imediatamente após  a abolição fosse realizada no Brasil uma ampla reforma agrária -  com a extinção dos latifúndios e distribuição de lotes aos ex-cativose implantada a universalização  da educação. Para ele, somente com o  acesso à  terra e à educação os negros se tornariam cidadãos de fato. Sem isso, a miséria seria perpetuada. A  História provou que André Rebouças estava certo. Somente agora, mais de um século após a abolição, a situação do negro no Brasil começa a melhorar com as atuais políticas de reparação. Mas ainda há muito a conquistar , como o fim do mito da igualdade racial, que obscurece o racismo e o preconceito  arraigados na sociedade. Assim como a implantação de políticas públicas consistentes e eficazes que combatam as diversas formas de violência dirigidas contra  a população negra.  Enfim, um Brasil que André Rebouças sonhou.
                                                       
  André Rebouças
                                     


Engenheiro e jornalista, este cachoeirano era filho de Antônio Rebouças, advogado e um dos principais nomes da epopéia do 25 de Junho de 1822. Nessa data iniciava-se  a fase armada da campanha pela Independência do Brasil quando,  em Cachoeira, o Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara foi  aclamado Defensor Perpétuo do Brasil.  Cachoeira proclamava  que dali em diante não mais considerava o Brasil ligado a Portugal e exortava o Príncipe a  declarar a independência. O episódio é considerado o primeiro passo para a Independencia do Brasil, pois nesse dia a vila de Cachoeira foi bombardeada por uma barca canhoneira  potuguesa ancorada no Rio Paraguaçu e iniciava-se a guerra pela Independência. Durante um ano Cachoeira foi a capital da Bahia livre, até a vitória final em  2 de Julho de 1823 , quando as tropas  portuguesas são expulsas  de Salvador.

O artigo a seguir, de autoria do criador deste blog,  foi publicado no Suplemento Cultural do jornal A  TARDE, em 13 de janeiro de 2008,  por ocasião do 170º aniversário de André Rebouças.    

 (clique nas imagens para facilitar a leitura)









FRASES DE ANDRÉ REBOUÇAS

É preciso dar simultaneamente ao povo brasileiro instrução e trabalho. Dar instrução para que eles conheçam perfeitamente toda a extensão dos seus direitos, dar-lhes trabalho para que possam realmente ser livres e independentes. 



A escravidão não está no nome, mas sim no fato de usufruir do trabalho de miseráveis sem pagar salários, pagando apenas o necessário para o desgraçado não morrer de fome.

Quem possui a terra possui o homem. 

Aviltar e minimizar o salário é reescravizar. Mesmo nos países que se supõem altamente civilizados, a plutocracia faz todo o possível para reduzir o salário ao mínimo absoluto: a landocracia * é reescravizadora por atavismo e não compreende a agricultura sem escravo da gleba.(NA: termo usado à época para definir a aristocracia rural dos exploradores da raça africana).


Deve-se , pois, combater incansavelmente a oligarquia, o parasitismo, a exploração sistemática do povo e da riqueza nacional em proveito de certo número de ambiciosos que conseguiram empolgar o poder mais ou menos fraudulentamente.
 
Uma zona de clima europeu, fertilíssima, e tendo nas proximidades jazidas de carvão de pedra que, se não pode competir com o inglês, serve aos imigrantes na economia doméstica e em um milhão de pequenas indústrias. No entanto, as margens continuam desertas, porque pertencem a fazendeiros que nem cultivam nem deixam cultivar a terra. (Sobre a Companhia de Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina, em Santa Catarina)


É dever rigoroso de todos os cidadãos; é indigno fazer parte de uma nação livre quem, por desídia, covardia ou pusilanimidade, assiste indiferente aos abusos da autoridade. É dever principalmente de a imprensa ser a guarda avançada, a sentinela constante e incansável de todas as liberdades públicas.

Em assuntos de governo, tenho apenas uma ambição: o de ser bem governado


sexta-feira, 13 de novembro de 2009

VENDE-SE FAZENDA NO VALE DO IGUAPE EM CACHOEIRA

Eis um anúncio publicado no jornal A IDADE D´OURO DO BRASIL, editado em Salvador. Foi o segundo jornal impresso no Brasil.

Era no Vale do Iguape, em Cachoeira, que ficavam alguns dos principais engenhos do Recôncavo Baiano, durante o apogeu do ciclo econômico da  cana-de-açucar, uma das principais riquezas econômicas do Brasil Colonial. Em suas terras férteis, as plantações de cana se multiplicaram e nos engenhos - graças ao trabalho da mão de obra escrava - era produzido o açúcar, que trazido a Salvador era  exportado para a Europa. Os frutos dessa riqueza gerada,  obviamente, eram destinados à Metrópole (Lisboa).

A principal característica geológica do Recôncavo é o massapê. A palavra tem origem latina e significa solo argiloso. Ele é compacto, de coloração escura, formado pela decomposição de calcários cretáceos e muito bom para a cultura da cana-de-açúcar. Quando úmido, o massapê se expande, tornando-se muito plástico. Quando seco, contrai-se e fica endurecido como pedra.

Mas nem só de cana-de-açúcar vivia o Iguape. Pelo anúncio, constata-se que havia muita produção frutífera e plantações de mandioca, além de aguadas para pastos.



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domingo, 8 de novembro de 2009

DOM PEDRO II DESFILA A CAVALO PELAS RUAS DE CACHOEIRA (8 DE NOVEMBRO DE 1859)



Visão de Cachoeira à época da visita de Dom Pedro II

Na segunda etapa de sua visita a Cachoeira, Dom Pedro II cumpriu um extenso programa que incluiu visitas às principais igrejas da cidade, Hospital São João de Deus da Santa Casa de Misericórdia, uma travessia a canoa pelo Rio Paraguaçu  (a ponte Dom Pedro II ainda não  existia) indo a São Félix e a Muritiba, antes de seguir para Maragojipe. O ponto alto da visita foi o desfile a cavalo pelas principais ruas da cidade. O imperador vestia a farda de gala de almirante do Império (como chefe de Estado, era  o comandante em chefe  da Armada e do Exército. A Aeronáutica, obviamente não existia) e foi seguido por um longo séquito. Para quem está acostumado com a figura do Imperador como  um velhinho de barbas brancas, cabe lembrar que nessa ocasião Dom Pedro possuía 34 anos. Segundo descrições da época era um homem alto, barba e cabelos louros, olhos azúis e, mesmo em trajes de gala, não se vestia luxuosamente. Procurava saber detalhes da história dos locais que visitava, fosse uma igreja, um hospital, uma escola, uma fábrica ou  uma simples plantação. Geralmente fazia doações  destinadas a amparar o trabalho social das instituições que conhecia.


À esquerda,  parte da casa onde hospedou-se Dom Pedro II, na   

Rua de Baixo  (atual 13 de Maio)



Alguns detalhes  dessa narrativa :  Dom Pedro II visitou as  igrejas  da  Matriz (Nossa Senhora do Rosário), Conceição do Monte, Rosarinho (chamada aqui pelo seu nome oficial, Rosario do Coração de Maria,  no alto do Monte Formoso, que era administrada por uma irmandade de homens negros), Ajuda e a Igreja do Amparo (esta última infelizmente demolida nos anos 50 do século XX) e que ficava  atrás  do atual prédio dos Correios,  que na época era o açougue público.  Dom Pedro II visitou ainda  a Igreja e o Convento do Carmo ,  escolas, a cadeia,  e duas  serrarias, uma no Caquende e outra na Pitanga. A travessia de ida para São Félix foi feita em uma galeota especialmente construída para tal; na volta, com a maré baixa, o Imperador atravessou o rio de canoa, conduzida por quatro "remeiros". Acompanhem a narrativa, feita pelo jornal A CACHOEIRA  e reproduzida no livro DIÁRIO DA VIAGEM AO NORTE DO BRASIL, escrito com base nas anotações pessoais do próprio Imperador.


Vejam o relato dessa etapa da visita,  a partir do ponto em que a comitiva imperial  retorna de Feira de Santana, vindo por São Gonçalo dos Campos. Eles chegam a Cachoeira  na noite do dia 7, pela Estrada do Capoeiruçu, passaram pela Rua Formosa, em direção à casa  em que Dom Pedro II hospedou-se, no prédio da atual Rua 13 de maio, onde funciona  hoje a  Fundação Hansen Bahia e parte da Universidade Federal do Recôncavo da bahia (UFRBa).   






Lucas Jezler era um suíço,  radicado em Cachoeira, que possuía uma serraria  em São Félix.  Pierre Verger, em "Notícias da Bahia - 1850"  (Ed. Corrupio, 1999) cita que "só na serraria do velho Lucas Jezler fabricam-se diariamente 7 a 8 mil caixas, que vão ser utilizadas exclusivamente para o acondicionamento de charutos fabricados em Cachoeira, São Félix, a vizinha  Muritiba e outras localidades da redondeza" .