terça-feira, 12 de maio de 2015

A HISTÓRIA DE CACHOEIRA, SEGUNDO O HISTORIADOR MELLO MORAES.

Em uma de suas obras mais conhecidas o médico e historiador alagoano Alexandre José de MELLO MORAES (1816-1882), um dos mais dedicados pesquisadores sobre o estudo da História do Brasil, dedica um artigo sobre a fundação de Cachoeira (Bahia).


Em "Crônica Geral e Minuciosa sobre o Império do Brasil - Desde a descoberta do Novo Mundo ou América até o ano de 1879", publicada em 1879 no Rio de Janeiro, ele descreve como teria sido a implantação dos primeiros engenhos de açúcar no Vale do Iguape, região às margens do Rio Paraguaçu, daí originando-se a povoação inicial que teria sido implantada por descendentes de Paulo Dias Adorno, navegador genovês que casou-se com Felipa Álvares, uma das filhas de Diogo Álvares Correia (Caramuru). A povoação deu origem mais tarde à Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, implantada oficialmente em 1698, segundo ordem expressa contida em uma Carta Régia assinada pelo Rei Dom João III, de Portugal.


                                                            Eis o relato dele:



A ilustração abaixo foi extraída de outra obra de MELLO MORAES ("Brazil Histórico") e mostra a Igreja da Ajuda em 1866. Ela foi a primeira construção religiosa de Cachoeira, inicialmente como uma ermida e reconstruída em 1673 por João Rodrigues Adorno. Fica exatamente em frente ao local onde estava a Casa Grande do seu engenho, que aproveitava as águas do Riacho Pitanga para mover o engenho de moer a cana e produzir açúcar, a principal riqueza do Brasil à época da fundação de Cachoeira.



IGREJA DA AJUDA (Foto de Lorena Moraes)

       12maio2015



domingo, 3 de maio de 2015

CACHOEIRA ENCANTOU CIENTISTAS DA COMISSÃO ARTÍSTICA AUSTRO-ALEMÃ QUE VIAJOU PELO BRASIL

Há quase 200 anos, entre 1818 e 1819, Cachoeira recebeu a visita, por duas vezes, de uma missão científica, dirigida pelo jovem botânico (e também médico) alemão Friedrich Philipp Von Martius e seu conterrâneo o naturalista Johann  Baptiste Von Spix.

Von Martius (já idoso) e Von Spix, que faleceu  ainda jovem, logo após retornar do Brasil.
 Eles integravam a Missão Artística Austro-Alemã, que acompanhou a comitiva da princesa austríaca Maria Leopoldina, cunhada de Napoleão Bonaparte. Ela casou-se na Europa, por procuração, com o Imperador Dom Pedro I e chegou em 1817. Muito culta, a Imperatriz trouxe cientistas e artistas para fazer um levantamento da flora, fauna,  paisagens e costumes do Brasil. Ela também teve um papel importante na  proclamação da Independência do Brasil. A missão científica passou três anos viajando pelo país, recolhendo amostras da flora e da fauna para estudos científicos e para abastecer o acervo de museus da Europa. A viagem resultou no livro Reise in Brasilien, publicado na Alemanha em 1823. 


O grupo de naturalistas e cientistas realizou uma viagem épica que percorreu 10.000 km,  durante um período de três anos, e que passou por quase todos os principais tipos de vegetação do Brasil. Eles saíram do Rio de Janeiro e viajaram a pé, a cavalo, em lombo de burros e canoas, e percorreram as províncias de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Piauí, Maranhão e, em julho de 1919, embarcaram para Belém. Depois de coletar na Ilha de Marajó e diversas localidades ao redor de Belém, começaram a última etapa da expedição subindo o rio Amazonas até Manaus onde se separaram. Spix subiu o rio Negro e afluentes enquanto Martius seguia os rios Solimões e Jupará. Retornaram a Belém em abril de 1820 e embarcaram para a Europa em junho do mesmo ano. A viagem resultou na catalogação de 27.767 espécies de plantas e flores, sendo o mais completo estudo já feito da flora brasileira. O atlas Flora Brasiliensis é a obra que apresentou a biodiversidade brasileira ao mundo.

A CHEGADA EM SÃO FÉLIX E CACHOEIRA

VILA DE CACHOEIRA (vista de São Félix) em 1818 - Gravura do livro Reise in Brasilien

Vindos do sertão de Minas Gerais, através da Estrada Real, chegaram à região sudoeste da Bahia enfrentando perigos diversos como animais selvagens, salteadores, doenças tropicais e um período de seca inclemente. A expedição cruzou a Bahia e chegou a São Félix em 4 de novembro de 1818. A chegada ao Vale do Paraguaçu foi um bálsamo para os viajantes extenuados, como descrevem.
Confiram a narrativa deles, nesse trecho extraído do livro Através da Bahia - Excerptos da Obra Reise in Brasilien (Cia. Editora Nacional - 1938). É uma obra escrita por Pirajá da Sila e Paulo Wolff, que traduziram diretamente do original em alemão a parte baiana da expedição. De Cachoeira a expedição seguiu em canoas para Maragojipe e Salvador. Depois seguiram para Morro de São Paulo e Ilhéus, retornando a Cachoeiraonde passaram outra temporada.
Na segunda visita a Cachoeira, Von Martius descreve com riqueza de detalhes aspectos da vida econômica, social (o entrudo, por exemplo) da cidade e descreve extasiado "...paisagens que, pelo verde luxuriante das colinas, pela variação dos bosques e pela diversidade de vistas sobre o majestoso rio, são de particular encanto". A beleza e a limpidez das águas dos riachos Caquende e Pitanga são destacadas pelo  cientista. Depois eles seguiram pela estrada de Capoeiruçu em direção ao São Francisco e chegaram a Juazeiro e Petrolina.
No último parágrafo do texto abaixo, Von Martius descreve o Lagamar do Iguape, cuja região sediava na época alguns dos principais engenhos da Bahia Colonial.

Com a palavra, Von Martius :