Em 1922 a briga entre os grupos políticos que disputavam ferozmente o poder político em Cachoeira chegava ao auge, instaurando o pânico na cidade. Na tarde do dia 2 de março daquele ano um tiroteio na Rua da Matriz entre partidários do ex-deputado federal Ubadino de Assis e seguidores do líder Albino Milhazes resultou na morte, vítima de uma bala perdida, do telegrafista Grimaldo Palmeira. O fato chocou a cidade e naqueles dias Cachoeira viveu um clima de terror com jagunços e capangas dos dois grupos rivais circulando nas ruas, causando apreensão e intranquilidade aos moradores.
O jornal A ORDEM era de oposição a Ubaldino e noticiou o tiroteio de maneira sensacionalista |
O fato foi determinante para o declínio do grupo "ubaldinista" que até então mantinha com mão-de-ferro o controle da cidade e de suas instituições, como a Prefeitura e a Santa Casa de Misericórdia. A polícia praticamente pôs-se a serviço do grupo contrário a Ubaldino e horas depois do tiroteio invadiu com violência a residência dele em busca dos capangas, causando mal estar entre os familiares e agravando o estado de saúde da mãe do pollítico. Ninguém foi preso mas foram encontradas armas utilizadas no tiroteio. O governador do estado era José Joaquim (JJ) Seabra, ex-aliado de Ubaldino de quem se tornara inimigo feroz. No dia seguinte ele enviou de Salvador uma força policial composta de 30 homens para "assegurar a ordem". Desde que assumira o governo pela segunda vez, Seabra demitira de funções públicas na cidade e na região todas as pessoas partidárias ou simpatizante de Ubaldino de Assis.
A morte de Grimaldo Palmeira, dias depois,causou comoção em Cachoeira |
Ubaldino de Assis tinha contra si o governo municipal, o governo do estado e a força policial especialmente designada para Cachoeira, além da Justiça (o juiz de Direito era seu desafeto) e perdeu também a guerra da "opinião pública". O principal jornal de Cachoeira era "A ORDEM", pertencente a Durval Chagas, também seu arqui-inimigo político, e fez uma cobertura tendenciosa, em que usou e abusou dos adjetivos contra Ubaldino de Assis. O jornal A TARDE, de Salvador, que deslocou um jornalista a Cachoeira como "enviado especial", acusou Ubaldino de ter agido com violência por ter sido "apeado do poder na cidade heróica". O jornal, que pertencia ao cachoeirano Simões Filho, também acusou o governo de não contribuir para acalmar os ânimos e, ao contrário, "incentiva a luta política". Por fim, o jornal, que fazia oposição ao governo, afirma ser esta a "política maldita do Sr. Seabra". Após o episódio, o prestígio político de Ubaldino de Assis caiu vertiginosamente.
O título da reportagem de A TARDE (edição de 4 de março de 1922):
A POLITICAGEM SELVAGEM
Mais uma vez, Cachoeira ensaguentada por lutas políticas.
A cidade está em pé de guerra - Tiroteios e ferimento mortal de um estafeta
Ao final do inquérito foram denunciados à Justiça somente partidários do ex-deputado, entre os quais um dos filhos dele. Outro filho, Benigno de Assis, que era promotor público em Senhor do Bonfim, foi exonerado de suas funções já nos dias que se seguiram ao tiroteio. Com este episódio encerrou-se a carreira política de Ubaldino de Assis, que por mais de quinze anos dominou Cachoeira. Naquele mesmo ano houve eleição para a Presidência da República e Ubaldino tinha apoiado Artur Bernardes - que venceu o pleito - contra a chapa "Reação Republicana" que tinha como candidato a presidente Nilo Peçanha e JJ Seabra como candidato a vice-presidente. Daí ter sofrido o ódio mortal de Seabra. Logo após a posse de Artur Bernardes, de quem era aliado, Ubaldino de Assis foi nomeado juiz federal em Blumenau (SC), para onde se transferiu. Nunca mais retornou a Cachoeira. Morreu em 1928, aos 67 anos, no Rio de Janeiro.
Gosto quando você,com a verve que lhe é peculiar rememora fatos ou personagens da história desse território chamado Cachoeira.
ResponderExcluir