Há 88 anos o jornal cachoeirano A ORDEM publicava um artigo sobre o Carnaval na cidade. Uma leitura atual revela aspectos interessantes da folia naquela época, como a intensa programação das festas públicas e particulares, a utilização das duas filarmônicas (as arquirivais Lyra Ceciliana e Minerva Cachoeirana) nos festejos de rua, os desfiles alegóricos de charretes, os cordões carnavalescos, o consumo inocente de lança-perfume (as marcas referidas no artigo são Alice e Rodo Metálico ...) e a influência da campanha eleitoral para Presidente da República na grande festa.
O Brasil vivia naqueles dias a efervescência de uma campanha presidencial. Para suceder Epitácio Pessoa (1918-1922) alinharam-se dois candidatos.
Do lado do governo estava o mineiro Artur Bernardes, lançado pelas oligarquias mineira e paulista, que há décadas se revezavam no poder, dentro da chamada política do café com leite (ora Minas, ora São Paulo, indicavam quem seria o presidente). Era o auge da chamada República Velha).
Artur Bernardes
Uma dissidência lançou a candidatura do fluminense Nilo Peçanha (um mulato que já havia governado o Brasil entre 1909/1910 com a morte de Afonso Pena, de quem era vice-presidente). A composição em torno de Nilo Peçanha ganhou o nome de Reação Republicana e reunia caciques políticos regionais insatisfeitos com a hegemonia mineiro-paulista na política brasileira. O candidato de oposição tinha apoio mais expressivos dos governos do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul
Nilo Peçanha
Ademais, foi a campanha mais eletrizante que o Brasil já vira, com a participação intensa das massas urbanas, onde o nome de Nilo Peçanha tinha mais penetração. O candidato a vice-presidente de Nilo era José Joaquim Seabra (o JJ Seabra), que paralelamente governava a Bahia. Pela Constiuição vigente à época (a de 1891) o vice-presidente da República presidia o Senado.
JJ Seabra
O clima eleitoral daquele ano contaminou o carnaval em Cachoeira. O jornal A ORDEM pertencia a Durval Chagas, que juntamente com Albino Milhazes liderava o principal grupo político local, alinhado a Seabra. Daí o jornal ter destacado com ênfase, ao final da reportagem, a letra de uma marchinha carnavalesca composta para atacar a candidatura de Artur Bernardes, chamado de Seu Mé pelos adversários. Outro apelido de Artur Bernardes era Carneiro.
A seguir, a íntegra do artigo em A ORDEM (25/02/1922) -
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O resultado final da eleição foi a vitória de Artur Bernardes, que em Cachoeira havia sido apoiado pelo deputado federal Ubaldino de Assis, adversário mortal de Durval Chagas e de JJ Seabra. A disputa política daquele ano em Cachoeira foi cruel, tendo havido inclusive um tiroteio em plena Rua da Matriz, que resultou na morte de um funcionário dos Correios, vítima de uma bala perdida. Houve várias prisões e a polícia invadiu a casa de Ubaldino de Assis em busca de armas e dos "pistoleiros". A casa, na Rua da Matriz, chegou inclusive a ser saqueada e Ubaldino acusou Seabra, que também era o governador da Bahia, de perseguí-lo e à sua família. Achando-se em perigo de vida, abandona a política cachoeirana e muda-se para o Sul do Brasil. Era o fim da carreira política desse cachoeirano que teve grande prestígio nos governos de Hermes da Fonseca e do próprio Artur Bernardes e era amigo e correligionário de Octávio Mangabeira.
Uma curiosidade dessa eleição é que o vice de Artur Bernardes, o maranhense Urbano Santos, que morreu antes de ser empossado. Rápido, JJ Seabra entrou na Justiça pleiteando o cargo de vice-presidente da República, usando o esquisito argumento de que fora o segundo colocado na eleição... para vice-presidente !!!. Perdeu, claro. Naquele tempo, quem fosse eleito Vice-Presidente da República era automaticamente Presidente do Senado.
E Artur Bernardes enfrentou fortes reações, principalmente militares, antes e depois da posse. Para debelar as insatisfações, revoltas, quarteladas e ameaças de deposição governou com o Brasil sob estado de sítio, do primeiro ao último dia de seu mandato.
E Artur Bernardes enfrentou fortes reações, principalmente militares, antes e depois da posse. Para debelar as insatisfações, revoltas, quarteladas e ameaças de deposição governou com o Brasil sob estado de sítio, do primeiro ao último dia de seu mandato.
Parabéns Jorginho,
ResponderExcluirVocê está reescrevendo a história
de Cachoeira.
Camilinho