domingo, 18 de setembro de 2011

SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE CACHOEIRA CRITICADA POR "EXCESSO" DE CARIDADE

No ano de 1855 o Presidente da Província da Bahia, João Maurício Wanderley (que viria mais tarde a receber o título de Barão de Cotegipe) alertava em seu Relatório, recitado perante a Assembleia Legislativa, que a Santa Casa de Misericórdia de Cachoeira, uma das mais antigas instituições do gênero no país, estava na iminência de uma grave crise financeira.   E o motivo apontado pelo governante era o mal entendido espírito de caridade de suas administrações, que viviam admitindo maior número de enfermos, do que aqueles a quem pode soccorrer. Como a receita era incerta e havia - além das obrigações com os doentes e a manutenção das propriedades que formavam seu patrimônio - a necessidade de se fazer investimentos em obras de ampliação do hospital, a situação, segundo o relatório iria se agravar nos próximos anos.

A leitura desse trecho do relatório expõe a real situação financeira e a atuação da Santa Casa de Misericórdia de Cachoeira, que recebia subvenções oficiais para as ações sociais e também  para investir na ampliação do hospital. O patrimônio da instituição era formado por 56 casas,  muitas em péssimo estado de conservação, e terrenos foreiros, entre outros. O documento revela ainda que ela acolhia crianças abandonadas (os "expostos"). Em Cachoeira eles eram criados fora do ambiente hospitalar, por amas externas (certamente remuneradas) e isso  diminuía a taxa de mortalidade desses órfãos. 

João Maurício Wanderley (1815-1889) além de ter presidido a Província da Bahia (1852-1855), foi deputado, senador e ministro quatro vezes (Fazenda, Marinha, Justiça  e Negócios  Estrangeiros, atual Relações Exteriores). Como chefe do governo parlamentarista, era presidente do Conselho de Ministros, ocasião em que (1885) assinou a Lei dos Sexagenários, que libertava os escravos com mais de 60 anos. Ironicamente, foi o único Senador do Império a votar contra a Lei Áurea. E, ao cumprimentar a Princesa Isabel, disse-lhe : "A senhora acaba de redimir uma raça e perder  o trono" 


2 comentários:

  1. E eu que pensabva que fosse um problema da administrração recente,a coisa é muito mais antiga,parece que já está entranhado no dna da entidade,porém precisa mudar para acompanhar os imperativos dos novos tempos.

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  2. É isso mesmo, Raimundo. A história de nossa querida Santa Casa é cheia de desafios como esse. Mas, assim como no passado, haveremos de superar a crise. É dessa resistência que é feita a argamassa da Santa Casa.

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