Embora oficialmente seja denominada Rua Rodrigo Brandão - homenagem muito justa ao militar cachoeirano que teve um relevante papel na Guerra pela Independência do Brasil - o logradouro conhecido pelos cachoeiranos como Rua do Fogo tem este nome devido a um trágico episódio ocorrido em 1877. Mais precisamente no dia 16 de novembro daquele ano, quando um incêndio destruiu o casebre de um casal de "africanos" e causou a morte de duas crianças que tinham sido deixadas trancadas em casa. O fato causou uma comoção muito grande em Cachoeira, inclusive pelo risco efetivo que a cidade correu de, no momento da tragédia, as chamas terem se espalhado por todos os demais casebres de palhas, o que teria catastrófico. Antes, a rua era conhecida como parte do Largo dos Currais Velhos, por ser local usado para abrigar os tropas de burros que chegavam dos sertões para abastecer a vila e voltavam carregados de produtos manufaturados adquiridos na vila. O incêndio foi noticiado pelo jornal A ORDEM (edição de 17 de novembro de 1877) em um primor de texto jornalístico pela descrição objetiva dos fatos, reproduzido em Salvador pelo jornal CORREIO DA BAHIA (edição de 20 de novembro de 1877), conforme o recorte abaixo :
O "Correio da Bahia" reproduziu notícia de "A Ordem" |
A Rua do Fogo, como passou a ser chamada
desde então, foi de fato um dos primeiros núcleos habitados pelos
negros em Cachoeira. A "elite" de então habitava o núcleo central da
vila, onde ficavam os sobrados habitados pelas famílias dos senhores de engenho e comerciantes da vila, e também os grandes armazéns que faziam do comércio cachoeirano o segundo maior da Bahia, por sua posição estratégica de entreposto comercial entre o litoral e o sertão. Segundo consta no site Cachoeira Online (cacaunascimento.blogspot.com.br)
a área tem significativo valor histórico, pois está ligada diretamente à
própria configuração geográfica desde os primórdios da antiga Vila de
Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira:
A área urbana de
Cachoeira é repartida em três zonas: a zona indígena (o Caquende), a
zona construída pelo colonizador (a área da vila), e a área de expansão,
destacando-se a Recuada (Currais Velhos, Bitedô, Rua dos Artistas, Rua
Barão de Nagé e adjacências), que originou-se de núcleos residenciais
fundados por africanos libertos.
Desde o incêndio, em 1877, os cachoeiranos chamam-na "Rua do Fogo" (Foto: Cacau Nascimento) |
Além dessa importância urbanística, a área em torno dos Currais Velhos está ligada às lutas pela Independência do Brasil. Foi ali que na noite de 24 de Junho de 1822 o Coronel Rodrigo Brandão
acampou com a sua tropa, marchando na manhã seguinte até a Câmara, que
reunida extraordinariamente aclamou o Príncipe Regente Dom Pedro de
Alcântara como "Defensor Perpétuo do Brasil". O ato provocou o ataque de
uma barca portuguesa, que disparou tiros de canhão contra a vila, dando
início à fase da luta armada na conquista da Independência do Brasil,
que seria consolidada somente em 2 de Julho do ano seguinte. A homenagem
prestada a Rodrigo Brandão, dando-lho o
nome à rua, deveu-se ao fato de que dali, ele partiu para garantir
suporte militar à Câmara de Cachoeira na decisão histórica.
Barão de Belém
Rodrigo Antonio Pereira Falcão Brandão (1786-1855)
|
Nasceu no Iguape, região da zona rural de Cachoeira onde ficavam os
principais engenhos, sendo inclusive proprietário de um deles. Recebeu o
título de Barão de Belém diretamente das mãos do Imperador Dom Pedro I pela participação
nas lutas pela Independência. Era Coronel e na madrugada de 25 de
Junho de 1822 entrou em Cachoeira à frente de uma tropa para
garantir que o Senado da Câmara aclamasse o Príncipe Regente Dom Pedro
de Alcântara. Teve papel decisivo na Batalha de Pirajá e em 2 de Julho
do 1823, integrando o Exército Libertador, entrou triunfalmente em
Salvador, com a fuga dos portugueses que resistiam à Independência e
controlavam a cidade. Mais tarde, já Brigadeiro, atuou em 1832 e em
1837/38 na defesa da legalidade e em nome do Império reprimiu as
revoltas republicanas de Guanais Mineiro, em Cachoeira, e a Sabinada em
Salvador, respectivamente. Morreu em 1855, tendo sido uma das vítimas
da epidemia de cholera morbus que assolou o Recôncavo.
Foi enterrado no Convento de Santo Antonio do Paraguaçu, próximo ao seu
engenho, no Iguape.
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