domingo, 3 de maio de 2015

CACHOEIRA ENCANTOU CIENTISTAS DA COMISSÃO ARTÍSTICA AUSTRO-ALEMÃ QUE VIAJOU PELO BRASIL

Há quase 200 anos, entre 1818 e 1819, Cachoeira recebeu a visita, por duas vezes, de uma missão científica, dirigida pelo jovem botânico (e também médico) alemão Friedrich Philipp Von Martius e seu conterrâneo o naturalista Johann  Baptiste Von Spix.

Von Martius (já idoso) e Von Spix, que faleceu  ainda jovem, logo após retornar do Brasil.
 Eles integravam a Missão Artística Austro-Alemã, que acompanhou a comitiva da princesa austríaca Maria Leopoldina, cunhada de Napoleão Bonaparte. Ela casou-se na Europa, por procuração, com o Imperador Dom Pedro I e chegou em 1817. Muito culta, a Imperatriz trouxe cientistas e artistas para fazer um levantamento da flora, fauna,  paisagens e costumes do Brasil. Ela também teve um papel importante na  proclamação da Independência do Brasil. A missão científica passou três anos viajando pelo país, recolhendo amostras da flora e da fauna para estudos científicos e para abastecer o acervo de museus da Europa. A viagem resultou no livro Reise in Brasilien, publicado na Alemanha em 1823. 


O grupo de naturalistas e cientistas realizou uma viagem épica que percorreu 10.000 km,  durante um período de três anos, e que passou por quase todos os principais tipos de vegetação do Brasil. Eles saíram do Rio de Janeiro e viajaram a pé, a cavalo, em lombo de burros e canoas, e percorreram as províncias de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Piauí, Maranhão e, em julho de 1919, embarcaram para Belém. Depois de coletar na Ilha de Marajó e diversas localidades ao redor de Belém, começaram a última etapa da expedição subindo o rio Amazonas até Manaus onde se separaram. Spix subiu o rio Negro e afluentes enquanto Martius seguia os rios Solimões e Jupará. Retornaram a Belém em abril de 1820 e embarcaram para a Europa em junho do mesmo ano. A viagem resultou na catalogação de 27.767 espécies de plantas e flores, sendo o mais completo estudo já feito da flora brasileira. O atlas Flora Brasiliensis é a obra que apresentou a biodiversidade brasileira ao mundo.

A CHEGADA EM SÃO FÉLIX E CACHOEIRA

VILA DE CACHOEIRA (vista de São Félix) em 1818 - Gravura do livro Reise in Brasilien

Vindos do sertão de Minas Gerais, através da Estrada Real, chegaram à região sudoeste da Bahia enfrentando perigos diversos como animais selvagens, salteadores, doenças tropicais e um período de seca inclemente. A expedição cruzou a Bahia e chegou a São Félix em 4 de novembro de 1818. A chegada ao Vale do Paraguaçu foi um bálsamo para os viajantes extenuados, como descrevem.
Confiram a narrativa deles, nesse trecho extraído do livro Através da Bahia - Excerptos da Obra Reise in Brasilien (Cia. Editora Nacional - 1938). É uma obra escrita por Pirajá da Sila e Paulo Wolff, que traduziram diretamente do original em alemão a parte baiana da expedição. De Cachoeira a expedição seguiu em canoas para Maragojipe e Salvador. Depois seguiram para Morro de São Paulo e Ilhéus, retornando a Cachoeiraonde passaram outra temporada.
Na segunda visita a Cachoeira, Von Martius descreve com riqueza de detalhes aspectos da vida econômica, social (o entrudo, por exemplo) da cidade e descreve extasiado "...paisagens que, pelo verde luxuriante das colinas, pela variação dos bosques e pela diversidade de vistas sobre o majestoso rio, são de particular encanto". A beleza e a limpidez das águas dos riachos Caquende e Pitanga são destacadas pelo  cientista. Depois eles seguiram pela estrada de Capoeiruçu em direção ao São Francisco e chegaram a Juazeiro e Petrolina.
No último parágrafo do texto abaixo, Von Martius descreve o Lagamar do Iguape, cuja região sediava na época alguns dos principais engenhos da Bahia Colonial.

Com a palavra, Von Martius :

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