Em 1818 e 1819 Cachoeira recebeu a visita, por duas vezes, de uma expedição científica, liderada pelo jovem botânico (e também médico) alemão Karl Friedrich Philipp Von Martius e pelo zóologo alemão Johann Baptiste Von Spix. Eles integravam a Missão Austríaca, que veio fazer um levantamento da flora, fauna e das paisagens do país. A missão científica chegara ao Brasil em 1817, acompanhando a princesa austríaca Dona Leopoldina, que veio se casar com o Imperador Dom Pedro I.
O grupo de naturalistas e cientistas realizou uma viagem épica que percorreu 10.000 km durante um período de três anos e que passou por quase todos os principais tipos de vegetação do Brasil. Eles saíram do Rio de Janeiro e viajaram a pé, a cavalo, em lombo de burros e canoas, e percorreram as províncias de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Piauí, Maranhão e, em julho de 1919, embarcaram para Belém. Depois de coletar na Ilha de Marajó e diversas localidades ao redor de Belém, começaram a última etapa da expedição subindo o rio Amazonas até Manaus onde se separaram. Spix subiu o rio Negro e afluentes enquanto Martius seguia os rios Solimões e Jupará. Retornaram a Belém em abril de 1820 e embarcaram para a Europa em junho do mesmo ano. A viagem resultou na catalogação de 27.767 espécies de plantas e flores, sendo o mais completo estudo já feito da flora brasileira. O atlas Flora Brasiliensis é a obra que apresentou a bidiversidade brasileira ao mundo.
Quando retornaram à Europa, em 1820, Spix tinha 39 anos e Martius 26. Era hora de organizar todo o material coletado. Foi uma época de intensa produção intelectual, onde foram elaborados tratados e obras de Botânica, Taxonomia, fitogeografia, etnografia, lingüística, costumes indígenas e plantas medicinais. Martius confeccionou um detalhado mapa fitogeográfico do Brasil, que foi dividido em cinco províncias, de acordo com a vegetação que aqui encontrou: flora amazônica, região das caatingas, Mata Atlântica, cerrado e região das matas de araucária e dos campos do sul.
Von Spix
A CHEGADA EM SÃO FÉLIX E CACHOEIRA
Vindos do sertão de Minas Gerais, chegaram à região sudoeste da Bahia enfrentando perigos diversos como animais selvagens, salteadores, doenças tropicais e um período de seca inclemente. A expedição chegou a São Félix em 4 de novembro de 1818. A chegada ao Vale do Paraguaçu foi um bálsamo para os viajantes extenuados.
Confiram a narrativa deles, nesse trecho extraído do livro Através da Bahia - Excerptos da Obra Reise in Brasilien (Cia. Editora Nacional - 1938). É uma obra escrita por Pirajá da Sila e Paulo Wolff, que traduziram diretamente do original em alemão a parte baiana da expedição. De Cachoeira a expedição seguiu em canoas para Maragojipe e Salvador. Depois seguiram para Morro de São Paulo e Ilhéus, retornando a Cachoeira, onde passaram outra temporada.
Na segunda visita a Cachoeira, Von Martius descreve com riqueza de detalhes aspectos da vida econômica, social (o entrudo, por exemplo) da cidade e descreve extasiado "...paisagens que, pelo verde luxuriante das colinas, pela variação dos bosques e pela diversidade de vistas sobre o majestoso rio, são de particular encanto". A beleza e a limpidez das águas dos riachos Caquende e Pitanga são destacadas peloo cientista. Depois eles seguiram pela estrada de Capoeiruçu em direção ao São Francisco e chegaram a Juazeiro e Petrolina.
No último parágrafo do texto abaixo, Von Martius descreve o Lagamar do Iguape, cuja região sediava na época alguns dos principais engenhos da Bahia Colonial.
Com a palavra , Von Martius :
(Clique nos textos para facilitar a leitura)
Herbáreos são plantas secas e prensadas, para uso científico de estudo e catalogação.
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