sábado, 10 de julho de 2010

IGREJA AMEAÇA EXCOMUNGAR QUEM SUMIU COM DOCUMENTOS EM CARTÓRIO DE TERRAS DE CACHOEIRA

Em janeiro de 1821 o padre Manoel Jacinto Pereira de Almeida - que servia em Cachoeira,  onde era  vigário encomendado e  um ano e meio depois, em 25 de Junho de 1822,  viria ser o celebrante do Te Deum realizado na Igreja Matriz da então vila, após a aclamação,  pelo Senado da Câmara,  do Príncipe Dom Pedro de Alcântara como Regente e Defensor Perpétuo do Brasil - emitiu um Documento Eclesiástico,  cujo texto foi transcrito na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) - Tomo XLVII - Parte Primeira (página 121), no ano de 1884. O documento original foi doado pela família do historiador Wanderley de Pinho e está arquivado na instituição, onde existem outros documentos históricos sobre Cachoeira e o Recôncavo (www.ihgb.org.br) 





A Fazenda Santa Anna do Camizão referida no documento ficava onde está localizado atualmente o município de Ipirá, cujas terras pertenciam ao território da Vila de Caxoeira. A intervenção da Igreja Católica, inclusive com ameaças de excomunhão,  pelo poderio que essa instituição representava à época, não era incomum, tanto que o Aviso Eclesiástico - equivalente a um edital - foi incorporado aos autos do processo, no Tribunal da Relação da Bahia (o equivalente hoje ao Tribunal de Justiça), movido por D. Maria Angélica do Sacramento, provavelmente esposa do capitão José Joaquim Freire Souto, contra o então responsável pelo cartório e principal suspeito de sumir com os documentos.

Note-se que o Padre Manoel Jacinto é identificado como vigário encomendado.  No sistema  vigente na época, de união civil-eclesiástica, ficaram bem conhecidos os vigários colados e encomendados: 

 - Os vigários colados,  normalmente os mais ilustrados, prestavam concurso público e, se aprovados, recebiam a paróquia por colação e dela só saíam se quisessem, pois eram efetivos, e recebiam sua remuneração diretamente do poder civil que, por sua vez, recolhia o dízimo dos fiéis e por isso tinha a obrigação de sustentar o culto e seus ministros; 

- os vigários encomendados eram sustentados pelos próprios fiéis, administravam as paróquias em caráter interino e estavam mais submissos ao poder dos bispos. Os vigários encomendados faziam aumentar o poder dos bispos, que os transferiam constantemente, já que não podiam fazer o mesmo com os colados.
Os vigários colados eram menos comum no Brasil Colonial e,  mesmo depois da Independência, no Brasil Imperial quando já vigorava a reforma eclesiástica, que fortalecia o poder dos bispos.  


2 comentários:

  1. Muito bom,não mudou muito nos dias de hoje,as coisas ocorrrem de forma não tão veladas,como dantes.

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  2. Cachoeira, ainda hoje tem um vigário colado.(?)

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