Na história de Cachoeira um dos períodos de maior atividade administrativa foi durante o governo do intendente (o nome "prefeito" foi adotado, somente a partir de 1930) Cunegundes Barreto. Embora o seu período de governo tenha sido curto (eleito em 1928, teve o mandato interrompido com a Revolução de 1930, que destituiu todos os intendentes do país), ele deixou um notável acervo de obras, com ênfase na urbanização da cidade. No governo dele foram calçadas de paralelepípedo as principais ruas da cidade, construídas praças, arborizadas ruas e finalizada a construção do cais, na orla da cidade. Apenas com algumas semanas de sua administração os efeitos já eram sentidos, como o "faxinaço" que promoveu, recolhendo o lixo que se espalhava nas ruas. Em pouco tempo, o impacto das ações do rico fazendeiro do distrito de Capoeiruçu guindado ao cargo de intendente, causou um efeito positivo sobre a cidade, como pode ser constatado neste artigo do jornal A ORDEM (14jan1928). A notícia faz referência ao "Cais Maria Alves", que estava em ruínas e seria brevemente recuperado. Trata-se do trecho fronteiro à Rua 25 de Junho, ao lado no local onde viria a ser construído mais tarde o Hotel Colombo. Ali existia uma praça irregular e abandonada, em cuja sombra de velhos tamarineiros as pessoas se reuniam. Cunegundes alinhou a praça, deu-lhe o nome do jurista Teixeira de Freitas e construiu a escadaria de pedra, que dava acesso às canoas que faziam a travessia para São Félix.
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Jornal cachoeirano A ORDEM (14 de janeiro de 1928) destaca o início da gestão de Cunegundes Barreto |
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Cunegundes Barreto teve um mandato curto, porém dinâmico |
O mandato dele, e de todos os demais intendentes dos municípios brasileiros, foi interrompido bruscamente pela Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. Cunegundes Barreto passou o cargo para Cândido Elpídio Vaccareza, nomeado interventor e que tinha sido inclusive antecessor do próprio Cunegundes na administração da cidade. Com a nova ordem política, os políticos "decaídos" - como eram chamados os que tinham perdido o poder - passaram a ser questionados, numa época de "caça às bruxas", onde inquéritos eram abertos em busca de quaisquer irregularidades que justificassem o arbítrio. Assim aconteceu com Cunegundes Barreto, que teve muitas de suas realizações questionadas quanto à lisura dos contratos. Mesmo sem nada ter sido provado contra ele, tal realidade abateu-lhe o ânimo. Desgostoso com a política, dedicou-se às suas fazendas mas tomado por uma grave depressão (ou "desgosto", como essa doença era conhecida à época) adoeceu e morreu menos de um ano após ter sido deposto. O enterro dele mobilizou a cidade e seu túmulo é um dos mais destacados do Cemitério da Piedade, ficando logo à esquerda de quem entra.
O escritor Antonio Loureiro de Souza dedicou-lhe um verbete no livro "Notícia Histórica de Cachoeira" (editado pela UFBa em 1972), onde resume a história da cidade e traça breves perfis de figuras históricas de Cachoeira.
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Cunegundes é destacado em livro de Antonio Loureiro |